Som & Sentido com Jaime Caetano Braun



Na próxima terça-feira haverá mais uma edição do Som & Sentido, às 18h45, na Arena do Celin, 2º andar do prédio 8 da PUCRS.

O autor que será ouvido dessa vez será o poeta, músico e radialista Jaime Caetano Braun. Quer saber mais sobre ele? Então, clica aqui.

Abaixo, você tem acesso aos textos que serão ouvidos na terça. Te esperamos lá:


PAISAGENS MISSIONEIRAS

No chão – As ruínas jesuítas
E o rio de lombo prateado,
Na quincha – o céu estrelado,
Cruzeiro e as sete cabritas
E as barrancas infinitas
Com a pátria em cada costado!

A noite vem galopeando
Da banda dos correntino,
O vento assobia fino
Sobre as águas bordoneando
E o velho Uruguai roncando
Segue mateiro e teatino!

Brotam de cada barranca
Lusco fuscos que chispeaim,
Como crinas de potranca
Saludando a lua branca
Que as estrelas pastoreiam!

É a paisagem missionaiera
Da idade do hemisfério,
Berço e matriz do gaudério
Que nasceu nessa fronteira
Junto à brasa galponeira
Desde o primeiro mistério!

Quem vem dessa procedência
Traz um sinal de nascença,
É aquela ternura imensa
Nativa desta querência
De onde nos vem a tendência
De nunca mudar de crença!


VOLVENDO

Depois de tempo
Muito tempo ausente,
Volvi, teatino,
Pra querência velha
Meu baio ruano
Ia trocando orelha
Como com pressa
De chegar na frente!

Horas perdidas e caminhos gastos
Atrás ficaram horizontes largos
Que o tempo largo
Vão ficando
Amargos na cantinela
Do ranger dos bastos!
Olhares turvos
De bombear querências
Na reculuta
De tropeadas findas
E olheiras roxas
De xiruas lindas
Que se quedaram
Lagrimando ausências!

Sombras e ranchos
De seteadas mansas,
Água Azulada
De vertentes puras,
Largas pupilas
De encurtar lonjuras
E almas vaqueanas
De adoçar lembranças!

Quem vira mundo
Sempre tem começo 
E larga tudo
Pra pegar a estrada  ,
Gastei o tempo sem pensar em anda
E faltou “plata” pra pagar o preço!

PRECE

A terra que eu carpo
Tem erva daninha,
Devia ser minha
Por lei de família!
E os sonhos que eu sonho
Também deveriam
Se a pátria que eu amo
Fizesse a partilha,
Dos tempos que andam ficaram as sendas
Porém os que mandam
Só pensam em vendas

A terra de todos
Pertence a tão poucos,
Talvez por que tantos
Deixaram que seja
Não há quem proteja
De abusos e agravos
E o canto dos bravos
Quer pátria para todos
Distantes dos lodos,
Saraús e conchavos!

E o céu desta terra?
Será que venderam
A herança mais bela
Da flor amarela
Da nossa fortuna
Se a própria laguna
Tem céus dentro dela?

Sinuelo dos tauras!
Bandeira dos livres!
Eu sinto que vives
Flameando nas almas!
Aos incréus que dirigem
Inspira e acorda
Com a luz que recorda,
O berço e a origem


TESTAMENTO NOVO

A pátria
Que é direito de todos por direito
Dos tetravós – dos bisavós,
Dos netos,
Ainda perdida
A promulgar decretos
Contra o bom senso
Que já foi respeito!

As leis dos homens,
Milenárias – justas, na carta grande
Não precisam flores
Nem mordomias de legisladores
Se o povo sofre
Pra pagar as custas!

Não há retorno
Para os bens perdidos,
Perante os grandes
O protesto é mudo
E os que não querem se manter unidos são candidatos
A perderem tudo!

São sempre os mesmos cadenciando a dança,
Falando em pátria
Pra enganar o povo
E – ao que parece,
O titular da herança
Não vai entrar
No testamento novo!


RIO DAS FALAS

Nasceu pra contador
Da velha história
Que o tempo dividiu
Em mais de duas
E andar tragando os céus
Tropeando luas
E bebedor nativo
Da memória!

Remanso
Em cada canto,
Onde se ajoelha
Desde o sem fim
A imensidão de sóis e Vem beber Na sanga dos heróis
Que a flor da terra
Tinge de vermelha!

Há um repicar
De sinos missioneiros
Num sonho triste
Transformado ausência e a mágoa triste que já foi querência
No retumbar
Dos bombos bagualeiros!

Leva nas águas
A mágoa de sem nome
Na expoliação
De até não sabe quando,
Caminho do chibeiro,
Contrabando,
Nascidos
Dos dois lados da fronteira!

Xirú vaqueano
De tropeada e domas
Sem passaporte
Pra bandear fronteiras,
É o rio da história
Que irmanou bandeiras
Na sina eterna
De trançar idiomas!

Índios e tigres,
Grumatãs e balas,
Ecos de um grito
Supucái que sai
Na flor das águas
Transplantando falas
No canto xucro
Do Tupã Uruguai!


FOGÃO MISSIONEIRO

Viva o meu São Luiz Gonzaga
E o seu povo nativista,
Todos enxaguando a vista
No fogão que não se apaga, ao contrário – se propaga
Pelos séculos afora,
O mesmo que – aceso outrora,
Multiplicou-se em milhões
Para arder nos corações
Da gauchada de agora!
Fogão Guaraní – Charrua
Que acalentou nossa raça,
Não há no mundo fumaça
Mais xucra do que essa tua,
Pois nela se perpetua,
Fervendo na mesma artéria
O sangue rubro da Ibéria
E o índio americano
Que deram seiva e tutano
À nossa estirpe gaudéria,
Os andejos de Castela
E os andarilhos do Láscio
Que escreveram o prefácio
Da pampa verde amarela,
Depois renasceram dela,
Formando um tipo racial,
O gaúcho, sem igual,
Meio touro meio galo,
Mistura de índio e cavalo
De quero-quero sorçal.
E ele estala nas Missões
O berço de onde saiu,
Já não tão rude e bravio,
Por tantas transformações,
Mas cultuando as tradições
Que à noite tem seguidilhas,
Pericón – polca – quadrilhas, chotes – vanerão campeiro, Misturando – água de cheiro
Com milonga e manzanilhas!

Quando não estou presente
Na querência centenária
A minh´alma libertária
Chora, por sentir-se ausente,
Porque vive e porque sente
O moderno e o antigo,
É aquilo que nem sempre digo:
Eu nunca saí de lá, 
Em qualquer parte que eu vá
Eu levo são Luiz comigo!

E aqui o payador se apaga
Porque não tem  quem o mande
Deixando um viva ao Rio Grande
E ao velho São Luiz Gonzaga!

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