Viajo porque preciso

Você já viu o filme Viajo porque preciso, volto porque te amo, do Karim Aïnouz e do Marcelo Gomez? Então corre. O filme está há mais de um mês em cartaz, mas agora só em um horário no Unibanco Arteplex, em Porto Alegre. Acho o filme belíssimo. Tem que ser visto no cinema.

Abaixo, reproduzo um texto que escrevi no meu blog há algum tempo, quando o filme entrou em cartaz.






Aproveito que Viajo porque preciso, volto porque te amo acabou de entrar em cartaz para dizer algumas palavras sobre ele. Vi ainda no Festival de Verão, numa sala pequena do Unibanco Arteplex, com um público razóvel, mas bastante interessado. (É uma pena que eu tenha ouvido relatos sobre pessoas saindo da sala de cinema no meio do filme nessa semana).

Tenho visto os filmes do Karin Aïnoz em cinemas e em bienais de artes visuais. Ele é um cineasta que trabalha nas fronteiras mais do que embaralhadas entre cinema e arte. Fico bem feliz que Viajo tenha realmente entrado em cartaz. Acho que o filme não é nada que o título promete, mas ao mesmo tempo é tudo. Não é um filme fácil, que se entrega ao público, o espectador que tem que se entregar a ele e embarcar na viagem proposta. No final das contas, é uma jornada subjetiva, criada a partir de imagens poéticas, ou transformadas em poéticas pela narratividade construída, que fala sobre o amor, assunto tão caro a todos.

Mas a viagem é exterior, interiormente o personagem está estancado, esfacelado, talvez ele não tenha condições de viajar. Fica revivendo o mantra de um amor que não funcionou. Lembro aqui de Alain Badiou, que li recentemente: "os movimentos que a poética do cinema entrelaça são falsos movimentos". Enquanto isso um olhar particular de um nordeste, para mim tão distante, vai tomando conta da tela e enchendo os olhos. " O cinema é visitação: do que eu teria visto ou ouvido, a ideia permanece enquanto passa", complementa Badiou.

Jean-Claude Bernardet tem feito uma série de posts sobre o filme em seu blog. Cito aqui o início do último post, que acho muito preciso: "Essa subjetividade que impregna as imagens de VIAJO é pós-JOGO DE CENA. VIAJO e o romance de Luiz Ruffato ESTIVE EM LISBOA E LEMBREI DE VOCÊ pertencem à mesma geração". Achei muito boa a associação com o livro de Ruffato. Ele realmente tem uma atmosfera que dialoga com o filme, um não-estar, que permeia toda a história de um emigrante de Minas que vai para Portugal. O personagem de Ruffato também viaja porque precisa.

Estive em Lisboa é um belo livro. Viajo é um filme belo.

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