Umas palavras com Élida




  

Angústia, dúvida, entrega, paixão, medo, vento, leveza “para que não me falte”.

Palavras que rolaram no último encontro do grupo de pesquisa Limiares Comparatistas e Diásporas Disciplinares, reunião especial pela presença de Élida Tessler. Alinhavada em reflexões sobre o papel das cidades nas obras da artista e no compartilhar de leituras, ideias e até de vídeos temperados com músicas de Caetano, a conversa girou bastante em torno do trabalho infinito de Élida Tessler, Você me dá a sua palavra? Nele, a artista pede para que o interlocutor escreva, num prendedor de roupas de madeira, uma palavra de sua língua materna. Elas depois são expostas em um único fio, que já exibiu suas memórias por Porto Alegre, Vitória, Petrópolis, São Paulo, Porto, Paris, Melbourne, Santiago do Chile, Umbertide, entre outras palavras que se chamam cidades.

Se as palavras falam origem, a história dessa obra pode começar com a detenção de um prefeito em Macapá, onde Élida tinha sido convidada para participar de um evento. Dada a situação política, o evento não podia mais ser realizado da mesma forma. Élida encontrou o centro cultural fechado, os funcionários que a contataram todos ocupados com o desenrolar do caso da prisão. Para o motorista de taxi que a buscou no aeroporto, seu contato então na cidade, Élida Tessler perguntou por que o prefeito tinha sido preso. “Ele faltou com a palavra”, disse o homem. Ela foi até um atacado e voltou carregada dos prendedores de roupa com que começou Você me dá a sua palavra? – obra que, como pretende a artista, deve continuar para sempre.

Se a palavra é começo, pode ser em 2004, mas também pode ser amor. Essa foi a palavra escolhida pelo taxista em Macapá, a palavra inaugural de Você me dá a sua palavra?, e, segundo Élida Tessler, uma das mais recorrentes no projeto. “Às vezes eu não lembro o nome de uma pessoa que eu conheci assim, mas me lembro da palavra”, Élida disse. Se as palavras são muitas, a gente não fica intimidado: deixa escorrer pelos toques no teclado da maneira em que vierem, e quem quiser que conte mais quatro...

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