Quando Célio parou de tomar banho, ele tinha certeza de que assim mudaria o mundo. Não que a decisão tenha sido tomada por questões políticas. Foi meio que sem querer, por causa do aquecedor que queimou. Mas para Célio, isso foi coisa do destino, porque era assim que tinha que ser. E a convicção de estar fazendo algo importante que logo acomete o ego da personagem também tem razão de ser: neto de um homem que viveu (e sofreu com) o holocausto, uma das maiores mazelas da história mundial, filho de um homem que viveu (e lutou contra) a ditadura militar, uma das maiores mazelas da história brasileira, Célio é um desamparado ideológico. Ele também quer ser engajado, mas não sabe muito bem como, por isso, encontra nas questões ambientais algo em que se apoiar. Que as suas convicções políticas (além da certeza de que o consumo de água deve diminuir) nunca fiquem claras ao leitor é só mais um sintoma dessa sociedade em que tudo se liquefez.
Mas não esperem um homem do subsolo ou um tratado sobre a degradação humana - o nosso (anti)herói também não é nenhum personagem de Hamsun. Célio é só um sujeito perdido, apático, sem muitas perspectivas e que não tem muito a dizer. Não à toa seu discurso seja tão tedioso.
E como 150 páginas de monotonia não teriam outro efeito no leitor que não a monotonia, Bernardo Ajzenberg cria uma alternância de vozes narrativas que incluem os emails e cartas histéricas de Débora, namorada de Célio, e os fragmentos saudosistas do caderno de Wiesen, amigo do pai da personagem e amante da sua mãe. Assim, com ironia e humor, Bernardo constrói um livro leve com assuntos pesados: dos problemas políticos, pessoais, familiares, profissionais de duas gerações que se afastam e se aproximam e parecem não saber mais seu lugar...
E como 150 páginas de monotonia não teriam outro efeito no leitor que não a monotonia, Bernardo Ajzenberg cria uma alternância de vozes narrativas que incluem os emails e cartas histéricas de Débora, namorada de Célio, e os fragmentos saudosistas do caderno de Wiesen, amigo do pai da personagem e amante da sua mãe. Assim, com ironia e humor, Bernardo constrói um livro leve com assuntos pesados: dos problemas políticos, pessoais, familiares, profissionais de duas gerações que se afastam e se aproximam e parecem não saber mais seu lugar...
Minha vida sem banho (Bernardo Ajzenberg, 2014) foi a obra lida (e discutida) pelo grupo na primeira reunião de maio. Foi aí que surgiu a ideia de trazermos os livros pra cá, com textos curtos, sem argumentação teórica nem complicação, como se fossem as orelhas (que aliás, andam incomodando o grupo, que sempre quer reescrevê-las!).
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